-Alô.
-Alô. Quem tá falando?
-Eduardo, mano.
-E aí Eduardo, firmeza, mano?
Aqui é o parceiro de Osasco lá, do show do dia 22.
-Ô, e aí, truta? Firmão mano?
-Firmeza. Aí parceiro, não vai nem ter mais aquele
show não, não precisa nem mais vim não.
-Como assim, mano, como não vai ter?
-É, tava tendo um show do Tribunal MC's, cê tá ligado?
-Pode crer.
-Aí um mano pisou no pé do outro, os dois se estranharam,
um deu uma facada no pescoço do outro, mais um morreu, mano.
-Porque pisou no pé, mano?
-Foi mano, aí os cara embargou o show aqui mano,
o dono do salão falou que não vai ter mais show de rap aqui não,
-É foda, toda mão essas fitas aí. Quando será que os caras vão
entender que o que os boy tão querendo mesmo é isso aí, mano?
-É embaçado. Mas aí Eduardo, firmeza mesmo, deixa no gelo
essa fita aí.
-Firmeza mesmo.
-Falou, um abração.
-Falou truta, é nós.
-Falou.
-Alô.
-Dum-Dum?
-Isso.
-Oi, Dum-Dum, firmão, como que tá aí?
-Opa, firmeza, quem tá falando?
-É o mano do show de Minas, véio.
-Opa, e aí, firmeza?
-Ah, mais ou menos, né?
-Por que?
-Por que é o seguinte. Ontem tava tendo um show
aqui do Império Z.O. e do Consciência Humana e pá,
surgiu uma treta aqui e um cara morreu, cara.
-Vixi...
-Entendeu?
-Pode crer.
-Polícia fechou tudo aqui e já era, não vai ter mais nada.
-Não vai ter o que, o nosso show?
-Nem o de vocês nem o de ninguém, a casa tá fechada
véio, entendeu?
-Ixi, mó treta.
-Liga a rapa aí.
-Firmeza, firmeza, vou dar um salve nos manos, firmeza.
-Firmão.
-Fica na paz aí, mano.
Fé em deus.
Cuzão de gravata, Cartier e Chrysler, tá com o cu na mão.
Sabe que a nossa música revoluciona, traz a auto-estima,
abre o olho do povo e coloca no alvo os verdadeiros
criminosos do Brasil. Interessa e muito a nossa extinção.
O nosso silêncio seria muito conveniente. Aí, nós, rappers,
estamos honrando a missão, fazendo o papel do tumor
maligno. Eles censuram um, vem outro e aperta a mesma tecla.
Eles matam um, nasce outro com a mesma ideologia.
Sem generalizar, sem julgar, só aconselhando.
Tem muito mano em cena que não entendeu a importância
do hip-hop. Rap, não importa o estilo, a quebrada, o cantor,
é a música da favela, é a voz do mais sofrido,
dos sem voz, aliás, é a sua voz.
Voz que você cala quando transforma em faroeste ou ringue
de vale-tudo o nosso espaço. O espaço conseguido com
sangue, suor e lágrimas. Um maluco de boné, calça larga,
não é seu inimigo só porque mora em outra área,
só porque pisou no seu pé ou porque curte outra banda.
Na rua a paz é quase impossível, mas no hip-hop só depende de você.