Abre as asas sobre nós
Ainda que seja tarde
Desamarre estes meus nós
Desamarre estes meus nós
Permita-me dobrar a esquina
Sem ver mais uma chacina
Dê-me a dor de consciência
Dê-me a sua inteligência
Desça as asas sobre nós
Nos acolha e nos proteja
Mesmo que estejamos sós
Mesmo que estejamos sós
Sorria para mim ao acordar
Faça chover no semi-árido
Controle as aluviões
Dê fartura aos embriões
Feche as asas sobre nós
Não deixe que a fúria fira
Não mande a desesperança
Rufle o quanto possa
Impeça o autoritarismo
Nos ponha longe do abismo
Multiplique oportunidades
Nos mostre suas verdades
Solte a pluma sobre nós
Pra que enxerguemos cores
E sintamos seus olores
Avolume a sua voz
Ajude-nos a ver o rosto
Dos que pregam o oposto
Dos que usam o seu nome
Mas que distribuem a fome
Que desabe sobre nós
A sua personalidade
Cada marca de seu sofrimento
Sua coragem e alento
Não se acanhe com a ameaça
Constante que lhe fazemos
Ponha ao largo suas asas
Distribua suas penas
Feche as asas e nos proteja
Não nos deixe aqui sozinhos
Reverbere o seu exemplo
Para os vendilhões do templo
Derrame seu sangue quente
Sobre cada um de nós
Cicatrize sua ferida
No calor de nossas vidas
Não nos seja abstrata
Bata as asas com a força exata
Nem tão forte que nos tire o norte
Nem tão lento que nos tire o vento