Eu quero uma canção que valha
Meio tronco inteiro meio maravalha
Que sirva ao ético e sirva ao canalha
Que seja elite e seja gentalha
Uma canção que use o poder da cisalha
Respeitando o gesto de quem achincalha
Que levante a cerca e derrube a muralha
Que colha a fartura e plante a migalha
Que zombe da minha cabeça grisalha
Que ajunte as partes do que se espalha
Que faça a costura do que se retalha
Carnavalizando a feia mortalha
Eu quero uma canção que valha
O frio do pólo e o calor da fornalha
O ócio do rico e você que trabalha
Que seja perfeita porque leva à falha
Que permita o novo que permita a tralha
Que incendeie e queime com fogo de palha
Que erga e suporte o peso da talha
Forçando o silêncio do homem que ralha
Preciso de uma canção que valha
O crime dos justos e a coesão da limalha
O fio cortante da minha navalha
A bandeira branca ao fim da batalha
Daqui a mil anos que seja a medalha
Do ser que ajuda do ser que atrapalha
De quem preconiza de quem avacalha
Fazendo-se proba na mão que metralha
Tão justa e tão torta que enquanto estraçalha
Os planos mais lindos de quem amealha
Permite também o caminho que atalha
A chama dos sonhos de sua acendalha