Índios, índias indo ainda
Caudalosos, cautelosos
Sinuoso Tietê
Caiubi, Tibiriçá
Piquerobi, Bartira
Guaianá, Tupiniquim
Tudo à espera de SP
Lá do alto do planalto
Que acaba em Paranapiacaba
João Ramalho olha o mar
Passo a passo um jesuíta
Sobe serra do martírio
Entre preces e precipícios
Cruz e cipó pra segurar
Na bucólica colina
No triângulo murado
Cada vértice uma cruz
Sobre o casario de taipa
Sobre as ocas de sapê
Ocas ocas de SP
Pairam padres e urubus
Anhangaduateíetê
Rio que foge pro sertão
Inglaterra da garoa
Bandeirante, maldição
Ladainhas e aleluias
Iorubá, tupi, latim
Sai sem pressa a procissão
A vila é lenta, é violenta
É corre-corre acorrentado
É chafariz que espirra sangue
São três séculos de solidão
Terra rossa, terra roxa
Macarrônico destino
Na amargura do café
Café café caferrovia
Entre Santos e Campinas
Capital do capital
Aspirando chaminé
Dos sobrados do triângulo
Até Campos Elísios
Higienópolis, Paulista
Baronesa faz piada
Bairro rico bairro ri
Gente diferenciada e chique
À la Chicago, à la Paris
Tijolinho cor de sangue
Já me chama a chaminé
Brás sem braço dedo mão
O apito, o grito agudo e grave
A ária, a ópera operária
E o maestro a gargalhar
Quá quá quá quatrocentão
Na metrópole paulista
Não tem pé só tem pneu
Pernambuco passa frio
Tem plantação de arranha-céu
Casarão dinamitado
Imigrante evaporando
Na locomotiva do Brasil
Sobe um bairro barrigudo
Gentrifica gente fica
Esperando a condução
Do cortiço ao fim do mundo
Na cohab sem cidade
Tiradentes, Itaquera
Demora mora no busão
São São Bento hip hop
Massacre, crack, crente, crime
A mais completa tradução
Carro, shopping, condomínio
Mais fechado, mais blindado
E a periferida aberta
Mutilada multidão
Internet idade média
Qual o fruto do futuro?
Atrocidade ou cidadão?
Atrocidade ou cidadão?