1. Verso
No país do Pai banana, da Titica e do Negrelha
Do Tchilar, do Laifar, Hora quente e da miséria
No pais do Ady Lima, do Kasta e do Coreon Du
E das divas dessa mocidade sem modelo de cota algum
No pais da fama fácil, revista caras e mais queridos
Os braços que se levantam contra
são os mais esquecidos
Descendentes desse olhar que arrepia caminho
Com medo de perder o pão e comer em casa do vizinho
Deserdados da economia, oscilados à sua sorte
Quem ousar dizer que dois mais dois são quatro
será condenado a morte
Testemunhos de vidas marcadas
Víctimas das parcerias público-privadas
Portadores de utopias, heróis triunfantes
A razão é mais letal que duzentos mil tanques
Pintores de ideias e não de discursos populistas
Elaborado pelo deputado
cujo nome não está na nossa lista
Coro
Eu não me acostumo
O que será de nós?
2. Verso
No meio de tanto drama visualizo a fatalidade
Dos que desprezam
o século dessas luzes que faltam na minha comunidade
Que observa serenamente o roubo doutrinário
Arquitetado por acadêmicos pagos pelo erário
Dos homens que não percebem
que do conhecimento nasce o combate
Do combate a arte, da arte a liberdade
Então, brota o líder no contexto da ruptura
E rebenta os grilhões seculares dessa escravatura
Que alimenta nossos corpos mas nos retira a mente
E impede que pensemos conscientemente
Que nunca é alto o preço a pagar
pelo privilégio de pertencer a si mesmo, acredita!
Ensine o homem a utilizar a razão
e ele pensará por toda vida
E deixará de andar de costas viradas em relação a mim
E não mais arremessar versos entre os dentes
como um guaxinim
Braços que se cruzam não fazem mudanças
Mas se achas a educação cara
então experimente a ignorância
Coro
Eu não me acostumo
O que será de nós?
3. Verso
Manter a clarividência nessa época em que se vive
Ter uma vida anónima, desbravar o homem livre
Nessa mesa de jogo em que as cartas estão marcadas
A máquina está programada
para que "revus" não ganhem nada
No país do Flagelo, do Leonardo e do Sidhartha
Matafrakuxz, Soba L, Negroyde e Warawuata
No país do Katro, do kota Seba e do Socola
Das damas sem ideias com más ideias na sacola
No país do "Cotovelo", Tchuna baby e Dagadan
Da Cuca, Elite Model e da esperança vã
Fiscais correm com os ambulantes das zonas urbanas
como se a beleza da cidade
estivesse acima da dignidade humana
Manter a lucidez é preciso, mudar de postura
Sabedoria milenar, erudição contra natura
Não somos artistas, somos intelectuais
lusófonos sem fama
Não somos artistas, somos intelectuais
lusófonos sem fama
Eu não sou nenhum jurista, sou um liricista sem grana
Não há nada mais irreversível do que a alma humana
Coro
Eu não me acostumo
O que será de nós?