A alma do meu cavalo
Tem vento pelas entranhas
Calma de brisa de maio
E entardecer de campanha.
Tem nas noites de agosto
Uma inquietude que venta
E a mansidão pelas rédeas
Em contraponto a tormenta.
Tem raios de temporal
Nas quatro patas calçadas
Que bate o rumo dos campos
Numa ciranda marcada.
É a água mansa de sanga
Arroio de campo bueno
Planura de várzea larga
Molhada pelo sereno.
Meu baio quando escarceia
Atira a sombra prá cima
Enroda o coscós do freio
Abanando franja e crina.
Clarão de lua no pêlo
Coração de noite boa
Terra nos olhos e um tino
De nuvem negra e garoa.
O sangue do meu cavalo
Tem fogo na sua essência
Mescla de tempo e coragem
E pôr de sol da querência.
Meu baio tem casca antiga
Das estâncias da minha gente
Tem alma de gato e mancha
Nos elos do continente.
É água pra tanta sede
É terra por onde pisa
É o fogo que tem no sangue
É o vento que vira brisa.
Pois quando estende a estrada
Num rumo de ir embora
Meu baio segue o brilho
Da luz da estrela da espora.
Por isso quando encilho
Meu baio numa ramada
Firmo a história do pago
Na cincha bem apertada.
É a descendência do campo
Na palavra que sustento
Alma sangue pêlo e raça
Unindo quatro elementos.
Meu baio quando escarceia
Atira a sombra pra cima
Enroda o coscós do freio
Abanando franja e crina.
Clarão de lua no pêlo
Coração de noite boa
Terra nos olhos e um tino
De nuvem negra e garoa.
A alma do meu cavalo
Tem vento pelas entranhas.