Era uma vez um casal de namorados
Que esqueceu a camisinha no calor do amasso
Beijo vai beijo vem e foi rolando e rolou
Depois de um tempo advinha o que aumentou
Infelizmente não foi o salário foi a barriga
Meu pai te mata se souber falou mina
Ela com dezesseis o moleque com dezoito
Tentaram dar um fim ao problema com um aborto
Já que não é legalizado fez um aborto caseiro
Pagar um é muito caro ele não tinha dinheiro
Mal sucedido mal feito aborto infeliz
Quase que a mina morre ufa foi por um triz
Mas o moleque firme e forte continuava lá
Sobreviveu não sei se foi por sorte e por azar
Depois de um tempo não deu mais pra esconder
O cara teve que assumir o bebê fazer o quê ?
Então o rapaz foi procurar emprego
Pra sustentar a mina e seu futuro herdeiro
A fila é gigantesca muita gente pouca vaga
Salário é pequeno num instante ele acaba
O dia D chegou todo mundo pro hospital
Berçário cheio é semana do natal
Tudo preparado pro parto da mina
Ela tá no quarto a mãe apreensiva
Faz força conta até três respira fundo
Olha quem tá chegando ao mundo
Esperai doutor falou o bebê
tá me tirando por que ?
Quem disse que eu quero nascer ?
Num país podre desigual e violento
Onde a gente se humilha pra ganhar o sustento
Onde falta escola e o pobre não opina
Vive calado e abandonado na esquina
Traficante,prostituta,mendigo e ladrão
Quer que eu nasça pra viver nessa situação?
Ai doutor por favor não enche o saco
Deixa eu voltar pro útero é o melhor que faço
Jornais do mundo todo vieram pra ver
A história do bebê que não queria nascer
História do bebê que não queria nascer
Se recusou a viver no Brasil porque
Não queria conviver nessa situação
Desse país desigual que fede a corrupção
Lá de dentro da barriga da mãe ele disse
A enganação do povo é o que me deixa triste
Além das mentiras contadas desde o início
Com o ?descobrimento? e a escravização do índio
Cartão corporativo cpi pra todo lado
Todo mundo tá cego ou se fingindo de otário ?
Tô sendo vigiado câmera em toda parte
tô sendo privado da minha privacidade
O alistamento obrigatório nas forças armadas
Um bando de macho batendo continência na mata
Violência crescendo mais que o pib do país
Supertrabalhador brasileiro infeliz
Superdesempregado também insatisfeito
Chega a copa e todo mundo com a mão no peito
Que lindo o menino cantando o hino
Orgulho de viver no país de Pelé e zico
Maioria pobre mas quem manda sempre é o rico
Deitado brevemente em berço de ouro
Ao som do mar e a luz do céu profundo
Fulguras o Brasil dos tolos dos bobos
Estamos em coma profundo no fundo do poço
Por falar em ir pro fundo viu a chuva de ontem?
A canoa passou a ser o veículo dos homens
Dos homens macacos da selva de pedra
Nascer num país que infelizmente me renega
Soltas na atmosfera a revolta e a dor
Seqüelas deixadas pela origem pela cor
Lixo sem coleta jogado em qualquer canto
Rostos diferentes vestindo o mesmo pano
Modismo,terrorismo assaltos em Brasília
Bala perdida milícia guerrilha
Criança abandonada pedindo esmola
Cheirando cola sem escola sonho de jogar bola
Jogar a copa ir pra Europa e essas besteiras
Mas a vida entra de sola e vive dando rasteira
O jogo não é limpo e o juiz não vê nada
De farol em farol vende docinho e bala
Falta de comida doenças pobreza
Transporte coletivo ainda é uma tristeza
Voto vendido salário pequeno
Estão matando o país ninguém tá vendo
(Refrão)
Filinhos de papai jeito esparciata
Sem nada na cabeça atitude de primata
Valorizam o ócio cultuam o corpo
Espancam os pobres,violentos falam pouco
A angra é dos reis a favela é da plebe
O olhar de quem não dá é diferente de quem pede
Direitos iguais aqui ninguém viu
Você tá de brincadeira eu tô falando do Brasil
Preconceito racismo e discriminação
De irmão pra irmão de negão pra negão
Contradição num estado que não é nação
Atrapalham o progresso do país né não ?
Os índios se drogando se afundando se matando
E o governo nem olha não tá nem ligando
Conflitos a procura da reforma agrária
A precariedade da estrutura carcerária
Que vergonha é essa merda de governo
Que transforma o país inteiro num puteiro
Que merda de país vou deixar pro meu herdeiro
Vou deixar essa vergonha de dizer que é brasileiro
E se eu nascer como é que vou viver
Meu pai desempregado como vou sobreviver
Não dá mais pra voltar o jeito é nascer
Vou me arriscar nesse mundão né fazer o que?
Se eu não morrer de infecção hospitalar é claro
Não tem lugar pra mim o berçário tá lotado
Mas eu sou brasileiro e não desisto nunca
Vou levar a minha vida como um jogo de sinuca
Alô presidente da bagunça geral
Um por um e todos pela nação até o final
História de um bebê que não queria nascer
Viu que o bicho tá pegando pra sobreviver
País em crise mas de olho no miss universo
República da elite desordem e regresso
Marxista ou contista você que sabe
Até quando você vai ficar posando de covarde
Até quando você vai apanhando feliz
Até quando vai afundando junto com o país
(REFRÃO)