Um ator negro olha pro céu com um ar de esperança
Um índio, uma catarinense e corta para uma japonesa criança
O candidato quer passar a imagem
De que é amado por toda a gente
Coloca um chapéu de engenheiro e aponta pra frente
Assina um decreto de mentira que
Na verdade é um pedaço de papel
Dobra a manga da camisa
Se sente do povo e vai comer pastel
Ele circula numa pick-up pela periferia
Acena para o povo do alto como se fosse o messias
Cercado de assessores
Papagaios de pirata
E de sua mulher de fachada
Na verdade ele namora o careca
À esquerda, atrás do cara de barba
Com cara emburrada
Ele come pela primeira vez, no bandejão escolar
E elogia a comida que os seus filhos nunca vão provar
Pra ficar fofo entra coro de adultos
Cantando com a voz de criança
Uma senhora perde a linha e pra câmera dança
Ele cola adesivo no peito de senhoras carentes
Ele abraça pessoas aleatoriamente
Está no meio do povo com toda essa confiança
Só porque esta protegido por
Policiais que fazem bico de segurança
Beija bebês no colo das mães
Abraça gente suada e tira fotos no celular
Agora a música vai subir para te emocionar
Todos os figurantes balançam as bandeiras pelo ar
Por dez reais fazem coreografia e fingem se importar
Câmera lenta, papel picado, abraço forçado
Uma montagem faz aparecer o vice ao seu lado
Eles nunca nem se encontraram
A foto é feita por computador
Agora vai piscar o número para o eleitor
Número! Número! número! número! número!
Esqueça tudo o que eu roubei
Mas não esqueça o meu número!