Quem, lhe ensinou a sorrir desse jeito?
Quando tudo que eu quero, é ficar sossegado
Se as evidências não tivessem caído maduras
É muito provável que vc, as tivesse negado
Pensei já ter visto tudo isso em outro lugar
Sua boca pintada, sua língua espada, anjo exterminador
Quem de sã consciência, viria parar aqui no fim do mundo?
Onde o rei está morto, e o carrasco no trono é quem toca o tambor
A semente da dúvida, plantada no seu inconsciente
Sim, seu medo latente não lhe deixa pensar
E o fantasma de Luis Bunuel está pra chegar
Aqui dentro o silêncio é bem mais forte que o frio
Dá pra sentir o ritmo do seu pequeno acesso de asma
Dá pra ouvir o guarda-noturno correndo e apitando
Apavorado como se tivesse visto um fantasma
A lua solta no espaço exibe seu brilho, a sua dor
As flores mortas de sede estão secando no vaso
Seu destino pensado, não correu pro lado que você queria
É que a necessidade não tem a mesma pureza do acaso
Com os olhos fechados, pois acostumados a ver na escuridão
A noite se move, e se move então chove, a noite vai desabar
Com o fantasma de Luis Bunuel, a nos observar
São noventa pessoas vestidas e prontas para o jantar
Umas vieram em sonhos, outras chegaram de trem
Elas trocam apertos de mão e presentes tão caros
Cada uma querendo o que a outra já tem
Ahh, mas esses criados, não ficam calados, tão impertinentes
Disse a jovem senhora, voltando as horas num relógio quebrado:
"E se o futuro me aguarda, e ele não tarda, nem chega atrasado
Que horas serão quando o tempo mudar para tempo passado?"
"Adeus", disse o tempo e sorriu fechando a janela
E aquela senhora outrora tão jovem, já parece morta
É o fantasma de Luis Bunuel, que abre outra porta
Valquíria, a noiva virgem que chegou das Bermudas
Colocou a vaidade na mesa e a verdade no chão
Seus olhos, fontes azuis de tanta pureza
Conserva sua virgindade, como uma perversão
Falou de um vagão de terceira, cheio de gente do fogo
Que mais parecia um antigo e enorme acordeon
Abrindo e fechando, solando uma dança demente
Tão em cima dos trilhos e no entanto, tão fora do tom
E se não há verdades, então talvez tudo seja ilusão
Só uma gargalhada que ecoa do lado de fora
E o fantasma de Luis Bunuel decide ir embora
By mospon