Video Poema Burrinho Pampa de Marco Brasil 2024 Lyrics Lyrics

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Video Poema Burrinho Pampa » Marco Brasil Letra

INICIOMarco BrasilPoema Burrinho Pampa

Marco Brasil - Poema Burrinho Pampa Lyrics


Eu nasci num campo aberto bem distante da cidade
E vivi os primeiros anos da minha vida
Com papai e mamãe em completa felicidade
O meu pai me levava com ele em todos os cantos
E mamãe com o seu manto me cobria
todas as noites na hora de se deitar
Quando o dia amanhecia eu já corria lá pro terreiro a brincar
E meu pai logo vinha pra me colocar na garupa do seu cavalo
E saia comigo pra galopar
Colocava o seu chapéu na minha nuca
e eu ia gritando "upa" "upa" fazendo aquela arruaça
E minha mãe achava graça vendo de longe a gente brincar
Um certo dia um domingo de manhã
Era o meu sexto aniversario e eu nem sabia
Foi quando eu vi o meu pai chegando da cidade
Puxando um burrinho pampa
eu achei até que não era verdade
Mas quando ele chegou me deu um beijo e me abraçou
E me colocou em cima do arreio daquele burrinho
e desse jeito falou
Meu filho você sabe que o seu pai não tem dinheiro
Mas nunca nada lhe faltou
Eu já sofri muito na vida
E pouca coisa pra mim restou
Mas eu tenho um orgulho tão profundo
e é dois tesouros que Deus não me negou
Um é sua mãe que eu amo tanto
E outro é você que é a maior alegria
que eu tenho nesse mundo
E de hoje em diante você não precisa mais
da minha garupa pra brincar de "upa" "upa"
Você já mereceu você é um menino esperto
e eu tenho certeza que aqui por perto
ninguém tem um burrinho tão bonito que nem o seu
Foi tanta a minha euforia que eu pulava
de alegria eu beijei tanto meu pai naquele
dia que ele até se comoveu
Eu ia lá na estrada galopava e voltava
Ia lá na roça galopava nas paióças
E todo mundo que eu via eu já corria
pra mostrar o burrinho que o meu pai me deu
Quando o meu pai ia pra cidade com o burrinho
eu acompanhava
Foi a melhor fase da minha vida na volta pra casa
à gente sempre apostava corrida
E ele sempre deixava eu ganhar
Pros meus amiguinhos eu sempre falava
do orgulho que eu tinha e que pai melhor
do que o meu no mundo não existia
Todos os dias eu ia com o meu burrinho na escola
E a tarde eu voltava correndo
com os meus cadernos amarrados na garupa
E vinha galopando alegre e contente vendo
meu pai lá na porteira me esperando pra me abraçar
Era tanta a felicidade que eu sentia
que até parecia que aquilo tudo era um sonho que eu vivia
E que nunca iria se acabar
Mas esse foi o meu maior engano
por que quando chegou o final do ano no último dia de aula
Eu vinha voltando da escola cortando meu burrinho
na espora naquela pressa de chegar
De longe eu vi a porteira, mas o meu pai não estava lá
Quando eu fui chegando em casa já vi um monte
de gente chorando
E já foram me segurando dizendo que eu não podia entrar
Todos me olhavam com pena
enquanto eu ouvia alguém falando
que aquilo não era cena que uma criança pudesse olhar
Mas eu não entendia o que aquela gente toda fazia
E por que eles não me deixavam entrar
Foi quando eu vi a minha mãe que veio até a porta
se ajoelhou na minha frente
E me abraçou e me apertou tão forte ela chorava tanto
que o seu pranto gelava nas minhas costas
E olhando a nossa volta havia um silêncio em cada rosto
E minha mãe naquele desgosto olhou
bem dentro dos meus olhos
Que nessa hora já não tinha mais aquele brilho de alegria
Por que eu sentia que a noticia não era boa
Mas ela não me dizia por que
as palavras não saiam de sua boca
Mas olhando nos olhos dela eu via
Uma infinita luz de tristeza
Que me fez olhar pra aquele monte de velas acesas
Lá no meio da sala e imaginar
Que aquela coisa estranha feita de madeira
é que era a razão de toda aquela tristeza
E que era o meu pai que estava lá
Mas eu não queria acreditar
Peguei meu burrinho pampa descambei
nas embernadas e o meu pai fui procurar
E na inocência de criança por todos os cantos
eu procurava eu corria eu gritava
Papai, papai, papai, onde o senhor está?
Chega de trabalhar tá ficando tarde vamos
pra casa eu ainda tenho tanto pra lhe falar
Eu tenho uma noticia tão boa pra te dar
O senhor já deve até estar comemorando
papai eu passei de ano e eu queria tanto lhe abraçar
Mas agora eu estou com medo eu estou chorando papai
E porque o senhor não me aparece nessa hora pra me ajudar?
O senhor sempre foi o meu heróI sempre dizia pra mamãe
Que o senhor nunca ficaria longe de nós
E hoje o senhor não me esperou lá na porteira
E eu que te procurei a tarde inteira
e ainda não consegui te encontrar
tá escurecendo papai e eu tenho medo de voltar
pra casa sozinho
Tem um monte de gente estranha lá
Por favor papai vem comigo o senhor queria tanto
que eu passasse de ano
Vai lá e diz pra aquela gente toda que aquilo
tudo foi um engano
E que o senhor só se demorou
por que a gente tava brincando de apostar corrida
E que pela primeira vez na sua vida
o senhor tinha conseguido ganhar
Que tristeza tão grande meu velho pai
O senhor me causou naquele dia e eu que reclamei
tanto quando eu não te vi lá na porteira
Naquele dia me esperando pra me abraçar
Mas agora eu tenho a vida inteira pra te pedir desculpas
E pelas tantas vezes que eu insistia
pra que o senhor me levasse na garupa
E o senhor não podia por que tava trabalhando
E eu ficava ali insistindo te perturbando
até que o senhor se comovia e num gesto de paciência
colocava eu na sua garupa
e eu te abraçava e o senhor dava risada
de ver a minha alegria
E aquela folia toda que eu aprontava
Mas uma coisa meu velho pai
Que por muitos anos eu não te perdoava
É que em todas as nossas corridas
o senhor sempre deixava eu ganhar
Mas aquela que seria a mais importante da minha vida
o senhor me deixou pra trás
E até hoje, até hoje eu ainda não consegui te alcançar
Eu era tão feliz meu pai e eu sei que foi o destino
que quis que aquele sonho um dia acabasse
E eu esperei tanto para que o senhor voltasse
pra me fazer de novo feliz
Mas agora eu já tenho dezesseis anos de idade
E minha corrida agora é contra a dor e a saudade
Por que eu sei que na realidade hoje eu estou sozinho
nas mãos de Deus o senhor sabe a mamãe
também já morreu
E eu sinto tanta falta dos seus carinhos
Sabe meu pai eu sei que é difícil viver neste mundo sozinho
Mas ainda eu tenho meu burrinho
aquele mesmo que o senhor um dia me deu
Agora ele esta grande ficou bonito cresceu
e hoje eu sei que ele sofre tanto quanto eu
Por que ele sabe a falta que o senhor me faz
De vez em quando meu pai eu saio galopando com ele
pela estrada
E às vezes eu passo para trás o arreio
e vou sentado na garupa olhando pra aquele arreio vazio
na minha frente
Imaginando o senhor ali sentado
e eu abraçado na sua cintura
Parece que eu sinto até o cheiro das suas costas
da sua camisa suada
Do sol quente do mormaço e de repente
olho pros meus braços
E sinto aquele vazio com o coração quase parando
enquanto o burro vai calando os seus passos
E eu fico ali parado engolindo as lágrimas
e os soluços que na garganta vem apertando
Triste sina do meu passado que ainda vive me machucando
E a vida que tudo ensina já me ensinou um ditado
que pra mim é o mais profundo
Amar os pais enquanto eles tem vida
por que depois de eles enterrados não tem remédio
nesse mundo que pode curar essa ferida.

Gabriel...

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