diz quem de manhã viu
uma pedra cair dos céus
soprando faísca
roncando trovão
estatelar-na terra,
abrir-lhe uma ferida profunda,
dividindo-a quase em dois,
acentuando-lhe as curvas.
diz quem viu
o povo espalhar-se a volta da ferida
como se assim lhe segurasse os rebordos
para que não aumentasse.
diz-se que
uma moça se atirou aos abraços do mar
para a terra voltar a ser chao.
diz quem viu
os homens danòarem
ao som do ghiculo
brilhantes de suor e transe.
diz-se que
sobre as pessoas em suspenso
voaram milhares de xitotonguanas.
um dia a ferida sarou
devolvendo a terra a sua antiga forma redonda.
o chao acordou todo,
completo,
a manha nasceu humida,vagarosa e perfumada,
gota solitaria na passagem dos anos.
(dedicado ao povo de Moçambique)