Eu, filho do carbono e do amoníaco
Monstro de escuridão e rutilância
Sofro, desde a epigênesis da infância
A influência má dos signos do zodíaco
Profundíssimamente hipocondríaco
Este ambiente me causa repugnância
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco
Já o verme - este operário das ruínas
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra
Anda a espreitar meus olhos para roê-los
E há-de deixar-me apenas os cabelos
Na frialdade inorgânica da terra!
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera
Somente a ingratidão - esta pantera
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro
A mão que afaga é a mesma que apedreja
Se a alguém causa inda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga
Escarra nessa boca que te beija!