Sertões afora, grotões adentro
Cavalgavam dois, estirando o tempo
Que o ódio insiste em arrazoar
Um ia na frente, outro vinha atrás
Cada qual, desgosto de não poder mais
E uma honra manchada pra se lavar
Por vales e várzeas, rumavam poente
Cruzavam vazantes, geograficamente
Cobrindo de pó e vingança o mapa do cerradão
Garrucha na mão, o nó na garganta
A justiça agora se fará de santa
Ao sol suada e soluçada numa guerra sem perdão
Quem é que tá com a razão, ê cumpade?
Quem é que tá?
Quem é que tá com a razão, meu irmão?
Quem é que tá?
Morrões acima, ribeirões abaixo
Tropeçavam dois, ligeirando o passo
Ela não podia mais esperar
Um, mais velho, papudo; outro, moço, soldado
Esse-um, vagabundo; esse-outro, coitado
E os dois na peleja de se arrenegar
Quadrante a quadrante, rasgavam tangentes
Traçavam secantes, geometricamente
Riscando caminhos de dor e sangue pelo chão
Um perseguia a vida, outro fugia da morte
O outro não via a hora de sair do Norte
E o um, no Sul, sonhava e alimentava o dia
de voltar pro seu sertão
Quem é que tá com a razão, ê cumpade?
Quem é que tá?
Quem é que tá com a razão, meu irmão?
Quem é que tá?
O silêncio na alma, o cansaço na mente
Ofegavam dois, guimaraneamente
Sertanejando os mistérios que cercam o coração
Lá fora, a razão ainda procura quem
Ninguém tem juízo sobre o mal e o bem
Só o sertão tem poder de explicação
Quem é que tá com a razão, ê cumpade?
Quem é que tá?
Quem é que tá com a razão, meu irmão?
Quem é que tá?