Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos.
Cem mil vezes que da vida,
partem tão tristes os tristes,
tão fora de esperar bem,
que nunca tão tristes vistes,
outros nenhuns por ninguém.
Que breve seja o teu pranto
como outrora foi o meu,
também sufoquei no peito
Um amor que me esqueceu.
Em súplica extremosa,
pela graça imensa de viver,
faço meu pedido agora,
parta de mim sem demora
antes que eu queira por ti morrer.
Se é tanto o bem que me queres
permita-me a paz buscar,
tornar mais leves os meus dias,
nunca mais me apaixonar.
Joan Rodrigues de Castelo Branco
(poeta da época pré-renascentista, séc.XV)