Fui criado na cidade
Estudei na faculdade
E cheguei a ser doutor
Me casei com a Cristina
Uma jóia de menina
Mais bonita que uma flor
Como era nosso intento
Logo após o casamento
Deixamos a capital
Pensando em nosso futuro
Procuramos o ar puro
Aqui na zona rural
Faz um ano mais ou menos
Que moramos neste ermo
Já estou arrependido
Espinhos de carrapicho
Carrapatos e outros bichos
Deixa a gente aborrecido
Foi pensando na estiagem
Que plantei arroz na vargem
Lá na beira do riacho
Depois que o arroz cachou
O riacho transbordou
Levou tudo rio abaixo
Na cidade eu divertia
O trabalho que eu fazia
Pra mim era brincadeira
Mas no cabo de uma enxada
Sinto a barra mais pesada
Quase morro de canseira
Nas noites que não tem lua
O meu drama continua
Até o outro dia cedo
Só com luz de lamparina
Coitadinha da Cristina
Chega até a chorar de medo
A saudade me devora
Me recordo toda hora
Meus amigos e meus pais
Estou magro feito um grilo
Já perdi 14 quilos
Isso é sofrer demais
Merece a nossa homenagem
O ilustre personagem
Que sacia nossa fome
Só depois do meu tropeço
Eu fiquei sabendo o preço
Do feijão que a gente come
Vou deixar esta palhoça
E não quero mais a roça
Chega de serviço bruto
Pra cidade vou voltar
Nem que seja pra morar
No porão de um viaduto
É certo o que o povo diz
A grandeza do país
É o que o caipira que constrói
Pois o nosso alimento
Vem da garra e do talento
Desse nosso irmão herói