Eu tenho uma viola
uma viola enfeitada
com seu laco de fita
sua fita encarnada
e ela que ilumina
o sertao da minha estrada
quando ponteio a saudade
nos versos de uma toada
Na boca da minha viola
nasce a noite enluarada
e o mundareu das estrelas
incendeia a madrugada
a minha viola acorda
o cantar da passarada
e vai tecendo a manha
com seus fios de alvorada
Viola sem violencia
nem por isso afiada
no gume que corta certo
sua rima desarmada
a minha viola e tiro
e estopim,e espingarda
mas so poe mira de fogo
nos olhos da namorada
E chora minha viola
uma dor assim magoada
ao ver meu povo tangido
feito boi em disparada
expulso de sua casa
de sua terra tao sagrada
sem ter direito a vida
ao valor de sua jornada
De certo minha viola
foi madeira enraizada
foi pau na beira do rio
onde a saira fez morada
foi vento,peixe,caipora
curumim,alma encantada
foi barro risco de estrela
um raminho de flor de nada
Por isso minha viola
desatina amargurada
toda vez que o homem chega
com seu fogo de queimada
com sua pobre riqueza
sua prata acumulada
em troca de um rio morto
de uma mata devorada
Eu tenho essa viola
essa viola enfeitada
que guardo dentro do peito
a jamais sera calada
pois mesmo numa ventura
ela acaso for quebrado
outras maos irao tocar
outra viola enfeitada