A cidade cravejada treme o mar de luzes ...
Raízes das velhas árvores fendem as calçadas.
Sombras encolhidas somam segredos no escuro,
Latões contra clarões recortam a aura bruta.
Cantar de rodas grudadas no asfalto molhado
A noite apalpa a roupa de recém chegada.
Milhões de paradeiros na palha desvairada...
Destino de cada um — agulha encontrada
Esquecendo o resto, sentidos sem algemas.
Néon no Nevoeiro abrasa o viaduto
Porta liberada do ventre canibal
Marilda da Cohab só dança depois das onze.
Valéria do Capão, quem pode ficar são?
Priscila Bóia Fria, tontura nas ondas do ar.
Tatuagens dobram e enroscam focos siderais
Serpentes soltam a pele — a primeira roupa
Orientais da SANSUY espreitam há séculos
Deusas malas abertas sem sonhos no camarim
Abortam o passado vivo no palco pedindo assim.
Tua vez fera Soraya, garras da Baixada Santista
Rebeca Avião da Usp, excede o valor do cachê
Furacão de Parelheiros, Marcinha da Represa
Deuses e pagés dançam tribos extintas
Os homens se exibem nas hordas revertidas
Escola de ocultar onde sangra o mundo
Cidade ardendo por dentro, síntese e recheio
O fogo sensual devorando anseios.
Néon no Nevoeiro, foco de labuta
A carne contorcendo modelando tudo ...
Grandes Galáxias, velhas árvores ...
As calçadas cedem, as raízes saltam.