Sabrina nove anos
Meio vesga
Uma surra por dia
Bonitinha indiferente
Mãe tem pé de macarrão, mamãe?
E tome tapa, murro, beliscão
Mamãe por que que sai fumaça do gelo, heim mamãe?
Pontapé, soco no olho, cascudão
Ô mamãe por que que índio não tem chulé?
Carraspana, trinco, safanão
Um dia Sabrina se levanta mais do que costume
Pega um dedal na máquina de costura de sua mãe
Coloca no dedal um pequeno caroço de pêssego
Enche-o com água, embrulha tudo numa folha branca e sai
Ela sai
Sabrina vai até um terreno baldio próximo de sua casa
E enterra o embrulho numa cova de 15 centrímetros
Rega bem e vai para casa
Durante meses, todos os dias
Sabrina continua na obstinada lida de regar o local do plantio
Ela rega
Agora, Sabrina já rega uma árvore frondosa e bela
Vendo que o vegetal já estava vigoroso
Ela fica um tempo sem ir ao local
Passados uns seis meses
A menina Sabrina volta para ver a árvore
E tem uma grata surpresa
Corre em busca de sua mãe
Para que ela também vem presenciar o fato
Dona Zuleica, era esse o nome da mamãe de Sabrina
Lavava roupa ouvindo um antigo sucesso do Roupa Nova
Dá um surra rapidinha na filha
E corre para o local enxugando a mão no avental
Lá chegando, Dona Zuleica olha para a árvore
E tem um súbito desmaio
Em segundos, volta a si e fica olhando
Custando a crer no que vinha
Uma lata carregada de latas de pêssego em calda
No rótulo claramente se lia
Pêssego em Calda Santa Sabrina