Todavia eu não sabia que acabaria assim, às moscas
Apodrecendo na fruteira, mera derradeira pera
à espera de alguém que me queira
Já sem viço, sem perfume
só mesmo o chorume a empestear a casa
Os dias passando e eu cada vez mais passada
Em alguma parte alguma eu sei que me acho na desordem
Pêra quando não é fruta é só palavra bruta
e palavra não cheira e fruta não escuta
Só que eu estou sofrendo, me decompondo nessa solidão
Me apaixonei por um caju que me deixou na mão
Nesse estado eu não sirvo nem pra compota
Isso já aconteceu antes com a bergamota
Só me resta enfeitar esse calendário aqui atrás da porta
Pois sem o meu caju, sou natureza morta