Esse cara que tá ali
E o outro acolá
Fazem parte do sistema
Não enxergam o problema
Não conseguem acordar
É o mesmo pai e mãe
É o mesmo educar
O que falta de poema
Sobra mais em um dilema
Triste sina de sofá
Pode ser que vá crescer
Um desejo de lutar
Mas não tem a ferramenta
Não se sabe, não sustenta
Não se pode governar
Cedo ou tarde vai sair
Sem destino pra pousar
Tantos já sumiram antes
Até bem mais importantes
Não sabe, não saberá
É a vida derramada
Numa escada de favela
O choro não é de graça
Custa mais que uma vela
O menino já se foi
Toda mãe chorou com ela
Todo pai perdeu a fome
O emprego, a espera
No jornal até fala
Mas nada se faz
É mais fácil dizer que
Somos marginais
E mostrar para o povo
Que é certo aceitar
Seu destino de morte
Sem sequer lutar
Mas o dia passou
E o povo esqueceu
A memória é tão curta
O banco já abriu
A novela acabou
Agora vai ter luta
Amanhã corre a sena
Vai ter mais de milhão
Vou fazer uma figa
E cruzar os meus dedos
Para que os meus medos
Sejam só ilusão
A história que ouvimos é que quem lutar
Pelos seus direitos pode se matar
Por entre os becos, vielas sem fim
Tantos já morreram tão perto de mim
E quanto aos vivos que insistem em querer
Um mundo mais justo pro filho crescer
Podem acabar na prisão federal
Pois ser consciente é ser marginal
Vamos juntos meu povo levanta daí
Temos muitos direitos para exigir
Arrancar desse peito a inércia, a dor
Não deixar que nos parem com o seu terror
Com suor e coragem se fazem heróis
Com amor e esperança nos fazemos nós
Heróis do dia-a-dia, na vida que tem
A luz que esperamos um dia já vem
Empunhemos a espada da educação
Estejamos atentos e fortes, irmão
Pois a luta é diária e interna também
Mas o amor sempre vence, amem!