Por que um cara
nasce com um talento
E quando não morre cedo
passa fome ou morre ao relento
Era um menino prodígio
Com a mente pura
Usou sabão de coco
pra fazer uma escultura
Fez um pégaso e o vizinho
em caricatura
Mas sua família era rude
totalmente sem cultura
Sua mãe quando viu bateu
O menino entendeu
Que não existe escultor
de sangue plebeu
Parou de esculpir e cresceu
virou bandido e foi preso
Mas na cadeia a chama reacendeu
Usando chave de fenda
pra esculpir na madeira
Não tem quem não se surpreenda
Com a peça de tal maneira
Se ele nascesse em Ipanema
Teria outra carreira
Mas nasceu num barraco
de papelão mangueira
Será?
Será que era pra ser dessa forma?
Deveria um gênio crescer
no meio que o deforma
Quem estabeleceu essa
maldita norma
Por que um é poço vazio
Enquanto o poço de outro entorna
Se algo não aconteceu
É por que não era pra ser
Se algo não foi seu
É por que não era pra ter
E se esqueceu
E por que não era ver
Se algo não aconteceu
É por que não era pra ser
Se algo não foi seu
É por que não era pra ter
E se esqueceu
E por que não era ver
Por um segundo ele não
atravessou na avenida
E foi num flash de memória
que passou toda sua vida
Um carro iria em sua direção
durante a batida
Mas ele parou pra pegar
do chão uma carteira perdida
Uma mina andava enquanto
falava distraída
Chorava e reclamava
se sentia traída
Seu celular tocou
bem na hora da saída
Da quadrilha durante
uma incursão bandida
Aquela ligação
lhe causou ferida
Mas fez com que ela ficasse
num canto bem protegida
Nem sempre se entende
Será que se aprende?
Será que há sabedoria escondida?
Tudo tem um por que
Mas só depois de cumprida
que a gente vai entender
Qual a razão contida
Qual é o objetivo da partida
Por que gente boa se vai?
Tem gente má sendo mantida
Se algo não aconteceu
É por que não era pra ser
Se algo não foi seu
É por que não era pra ter
E se esqueceu
E por que não era ver
Se algo não aconteceu
É por que não era pra ser
Se algo não foi seu
É por que não era pra ter
E se esqueceu
E por que não era ver