Quando eu nasci aprendi que em casa tudo é de graça
Nada se paga
Tinha o leite, o biscoito
E às vezes tinha também chocolate de graça
Ia pra escola, não pagava nada
Tinha merenda gostosa de graça
Tudo era tão suave, que saudade!
Eu fui crescendo e ouvindo conversas
E descobri o que era dinheiro
Que na verdade nada era de graça
Tudo se paga, se vende ou barganha
Vi o meu pai sussurrando no quarto
E a minha mãe suspirando nervosa
Do emprego ele foi excluído!
Minha inocência estava acabando
E a indecência da vida chegando
Vi que os adultos guardavam segredos
E conviviam com um monte de medos
Medo da dor, do patrão, da polícia
Medo das blitz, das balas perdidas
Todos os adultos são culpados!
E prá fugir dessas coisas sombrias
Pra se sentir mais tranqüilo na vida
Todos procuram ansiosamente onde está deus
Que nos garante a vida
E foi assim que encontrei a igreja
Enquanto o mundo cruel nos condena
A igreja de deus nos perdoa!
Quando eu passo às cinco da tarde
Na praça xv ou central do brasil
Vejo pessoas que foram excluídas de um emprego
Que não lhes serviu
Gente excluída dos sonhos da vida
Gente excluída do emprego que quis
Uma multidão de excluídos!
De alguma coisa nessa capitalista sociedade
Todos nós somos sempre excluídos
Ainda bem que existe a igreja
Onde as pessoas não são excluídas
Lá tem amor e tem misericórdia
Pregam que deus não desiste de nós
Lá me ensinaram sobre a tolerância
Que o homem cai mas que deus o levanta
A igreja não exclui ninguém, que alívio!