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Vou Rasgar o verbo na lata
Cantando de cara uns versos pro senhor
Que me vê riscar um fiapo
Farrapo de um cantador,
Pois das venturas que há no mundo
Ser um vagabundo é o que me restou.
De primeiro, ainda menino,
Costumava me queixar
Das privações que o divino
De poder infindo teimou em deixar,
Resmungando pelos cantos
Jurei, inté pro Santo, que um dia ia aprumar.
Me perdi na mocidade
Vindo pra cidade quis me arranjar
Pro olhos de uma donzela,
Cegueira dos olhos dela;
Preso por laços de amores
Conheci as dores de um novo pesar.
Diz que a dor ensina a gemer,
Não creio nisto, é mentira;
Vivo cantando a sofrer
E as dores meus cantos espira
Sou filho do Sofrimento
Tormenta quem me criou
Ainda ando de mãos dadas
Por estas estradas com a tal de Amargor.
Com se ainda fosse pouco,
Estou que nem língua de sogra
Sem tempo pra descansar;
Porfiando com o patrão
Migalhas de pão pelo meu cantar.
E o sinhozim vem me dizer
Pra eu caçar serviço, mode ir trabalhar
Como se a flor da cantiga
Brotasse na caatinga sem ninguém plantar.
Se nós não bota um frei na gente,
Num sei, minha gente, onde nós vai parar.
Vou lhe arranjando estes versos, Modesto
A vida merece o melhor que nós tem,
Mas este oficio é um bocado difícil
E o negócio não vai muito bem.
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