Das muitas coisas
Do meu tempo de criança
Guardo vivo na lembrança
O aconchego de meu lar
No fim da tarde
Quando tudo se aquietava
A família se ajuntava
Lá no alpendre a conversar...
Meus pais não tinham
Nem escola e nem dinheiro
Todo dia o ano inteiro
Trabalhavam sem parar
Faltava tudo
Mas a gente nem ligava
O importante não faltava
Seu sorriso e seu olhar...
Eu tantas vezes
Vi meu pai chegar cansado
Mas aquilo era sagrado
Um por um ele abraçava
E perguntava
Quem fizera estripolia
E mamãe nos defendia
E tudo aos poucos se ajeitava...
O sol se punha
A viola alguém trazia
Todo mundo então pedia
Pro papai cantar pra gente
Desafinado
Meio rouco e voz cansada
Ele cantava mil toadas
Seu olhar no sol poente...
Correu o tempo
E hoje eu vejo a maravilha
De se ter uma família
Quando tantos não a tem
Agora falam
Do desquite e do divórcio
O amor virou consórcio
Compromisso de ninguém...
Há tantos filhos
Que bem mais do que um palácio
Gostariam do abraço
E do carinho entre seus pais
Se os pais se amassem
Tudo isso não viria
Chamam a isso de utopia
Eu a isso chamo paz...
Colaboração Edson Faria