Quando eu nasci
A minha mãe chorou com pena
Em assistir essa cena
De me ver no meu setor
E o meu dono
Que me fez um boi de carro
Pra puxar canga e arado
E morrer no matador
Me judiaram
Com uma vara de ferrão
Meu sangue pingava no chão
E minhas lágrimas descia
Com grosseria
Sem de mim, ter pena e dó
Eu puxava o carro só
E o carreiro me batia
De pequenino
De mamãe fui separado
Pra puxar carro pesado
Pra aumentar o meu sofrer
E o meu dono
Só me deu castigo e peso
Depois me deu o desprezo
E pra o matador me vendeu
Depois de velho
Sem de mim ter preferência
Atacado pela doença
Meu corpo sentindo dor
E o meu dono
Sem de mim ter piedade
Pra eu não morrer no cercado
Me levou pra o matador
E o marchante
Quando olhava pra mim
Sentir uma coisa ruim
Vi que a morte me chamava
Pelo discuído
Em mim ele atirou
Nas tabuas do matador
Chega o meu sangue jorrava
E a minha carne
Pelo povo é comida
Tanto que eu sofri na vida
Ninguém não me deu valor
Não tive amor
Não conheci mãe, nem pai
E o meu sofrer foi demais
Ainda bem que acabou