Quando eu nasci
Meus primeiros chinelos: o chão
Que batiam teimosos meus pés
Mas nunca os deixou cravar, não`
Foi quando eu vi
Que, então, eu era de nenhum chão
E o chão é só pra quando cair
Eu me arvorar com as próprias mãos
Fui-me embora de vez, de vez
Mando cartas de mês em mês
Só não me remeta, por favor
Não me enderece, não
Que eu não vivo nessa de
Plantar os meus pés em canto algum
Mas quando eu dobrei a esquina do tempo
Que é avenida, eu vi tudo em ruínas, vi
Ai Ai
Minha lembrança se foi
Foice no ontem/hoje
E nem olho pra trás
Quem derrubou as cercas do meu mundinho
Pra eu ver que ele era bem maior
Fez-me um favor
Eu que viveria miudinho e morreria só
Minha paz é cigana
Os meus pés
Da minha cama, a cabeceira
Os meus pés que me calçam
São fiéis companheiros
Pois sei
Nunca me darão rasteira