Não chore menino
Eu vou me embora pra Sum Paulo
Eu vou me embora pra Sum Paulo
Órfão estou das minhas mãos
Minha sina já marcada a geração
O choro berra ao espaço
De uma barriga verminosa
A pisar descalço
A insolação
Desde os primeiros anos
Falta pão
Não chore menino
Falta teto
Falta chão
Falta carne
Falta grão
Falta vaca
Plantação
Armário, dente
E João
Falta sumo
Sobram ossos
Falta açude
E vacinação
É a peleja
Humilhação
Não se aprende
Nem com cinturão
E só sobra
Sua peleja
E seus raros
Grãos de feijão
Que se perdem na fineza
Do caldo e mastigação
Não chore menino
Na esperança, na janela,
Sempre esperando por João
Sou viúva da seca, na industria da esmolação