Que saudades eu já tinha
Da minha alegre casinha
Tão modesta como eu
Como é bom, meu Deus, morar
Assim num primeiro andar
A contar vindo do céu
O meu quarto lembra um ninho
E o seu tecto é tão baixinho
Que eu, ao ir para me deitar
Abro a porta em tom discreto
Digo sempre: Senhor tecto
Por favor deixe-me entrar
Tudo podem ter os nobres
Ou os ricos de algum dia
Mas quase sempre o lar dos pobres
Tem mais alegria
De manhã salto da cama
E ao som dos pregões de Alfama
Trato de me levantar
Porque o Sol, meu namorado
Rompe as frestas no telhado
E a sorrir vem-me acordar
Corro então toda ladina
Na casa pequenina
Bem dizendo, eu sou cristão
“Deitar cedo e cedo erguer
Dá saúde e faz crescer”
Diz o povo e tem razão
Tudo podem ter os nobres
Ou os ricos de algum dia
Mas quase sempre o lar dos pobres
Tem mais alegria