(Para Suzy e Marcos Magalhães)
Nasci no sertão desfrutando as virtudes
dos tempos de inverno fartura e bonança.
Depois veio a seca, fugiu-me a esperança
diante de cenas tão cruéis e tão rudes.
Vi secos os rios, as fontes, os açudes,
e eu, que gostava tanto de pescar,
saí pelo mundo tristonho a vagar.
Fui ter numa praia de areias branquinhas
e, olhando a beleza das águas marinhas,
cantei meu galope na beira do mar.
Ali na cabana de alguns pescadores,
olhando a beleza do mar e do arrebol,
bonitas morenas, queimadas de sol,
alegres me ouviam cantar seus amores.
Abrisa soprava rumores,
o pinho a gemer e depois a chorar.
Aquelas morenas, à luz do luar,
me davam a impressão que fossem sereias.
Risonhas, sentadas nas alvas areias,
ouvindo meus versos na beira do mar.
Eu sempre que via, lá no meu sertão,
caboclo vaqueiro de grande bravura,
num simples cavalo, na mata mais dura,
com a roupa de couro pegar o barbatão,
dizia abismado com aquela impressão:
'não há quem o possa em bravura igualar'.
Mas depois que eu vi um praiano pescar
numa frágil jangada ou barco veleiro,
achei-o tão bravo tal qual o vaqueiro...
Merece uma estátua na beira do mar.