Um filho caçula e muito mimado
Nos confins da roça regressou doutor
De anel no dedo, cheio de segredos
E muito disposto a mostrar seu valor
Encontrou seu pai no chão ajoelhado
Plantando com as mãos um ramo de flor
Ouvindo o barulho do recém-chegado
Morto de saudade o bom lavrador
Correu abraçar o seu filho adorado
Mas foi evitado, meu Deus que horror
Olhando no chão o roceiro honrado
Com água nos olhos disfarçando a dor
Ouviu paciente o almofadado
Fruto diplomado do seu grande amor
Você não enxerga meu terno engomado
Nem o meu diploma, oh! faça o favor
Você vem correndo todo lambuzado
De terra molhado, de chuva e suor
Só os ignorantes e os atrasados
No país de hoje vivem nessa cor
Você não entendo que o brasil amado
Cresceu para os lados em todo o setor
As portas do mundo por homens letrados
Abriram mercados para o exterior
O índio de hoje é civilizado
Tem café solúvel e tv a cor
Em todos os cantos de todos os estados
Existe mobral e um bom professor
Se você não sabe, eu já sou formado
Não sou mais apenas um agricultor
Cortando a conversa, o velho corado
Disse, estou cansado de ouvir promotor
Vivo aqui no mato, dou murro pesado
E não sei do mundo com tanto esplendor
Só sei que o dinheiro deste atrasado
Foi lá pra cidade e te fez doutor
Se a instrução vem lá da cidade
A educação vai do interior
Pois fique sabendo que os lambuzados
Chamam aqui na roça os pais de senhor