("-senhorita, eu preciso falar com o médico
É caso urgente
Pois não, um minutinho só, doutor!
Sim, qual é o problema?
Doutor, no meu carro tem um rapaz
Que sofreu um acidente de automóvel
E está entre a vida e a morte
Precisando urgentemente de seus cuidados
Eu o socorri na estrada e não o conheço
Vê o que o senhor pode fazer por ele
Tá muito bem, só que o senhor terá
Que depositar quinhentos cruzeiros
Para os devidos tratamentos
Em caso contrário não vou cuidar
De uma pessoa estranha
E que não tenha ninguém por ele
Mas doutor eu apenas estou cumprindo
O meu dever
É se o senhor não tiver dinheiro
Aconselho que o senhor leve a vítima
Para outro hospital
Está bem se é que o senhor exige
Uma certa quantia para salvar uma vida
Eu vou tentar arrumar o dinheiro
Bem sendo assim pode trazer o rapaz")
E o moço acidentado foi pra mesa do hospital
Sentindo muitas dores, seu estado era mal
Agravou-lhe o sofrimento e parou seu coração
E assim ele morreu dentro daquele hospital
Como se fosse indigente
Sem ninguém lhe pôr as mãos
O rapaz do automóvel
Quando voltou com o dinheiro
Entregou àquele médico os quinhentos cruzeiros
O doutor se preparou para atender o ferido
Mas a sua enfermeira transmitiu-lhe este aviso
Que o moço acidentado já havia falecido
O doutor disse à enfermeira
Me entregue os documentos
Pra cuidar do laudo médico e do sepultamento
A surpresa foi tão grande
Que o doutor quase morreu
Deu-se ali grande tristeza
Pois aquele moço estranho
Que o doutor não deu socorro
Era o filhinho seu
Disse o médico chorando
Me desculpe caro amigo
Por um erro irreparável
Perdi meu filho querido
Que isto sirva de exemplo
Para os meus companheiros
Foi cruel o meu castigo e agora reconheço
Que perdi meu filho amado
Só por causa do dinheiro