Sou filho de mato grosso criado no paraguai
Nunca engoli um caroço e nisso puxei meu pai
Se escuto algum desaforo
Eu olho à frente e atrás
Pode ser até meia dúzia
Que sem resposta não vai
Eu já dormi no relento, já vi o dia amanhecer
Já passei o dia inteiro
Sem ter um pão pra comer
Já levei tanta pancada sem saber me defender
De tanto padecimento foi que aprendi a viver
Me apincho em qualquer parada
Nem deixo a vida correr
Não tenho medo de nada
Não sei quando vou morrer
No lombo de um burro brabo sou um saci-pererê
Eu saio do lombo dele só depois que resolver
Já fiz tudo neste mundo porque cismei de fazer
Só não fui um vagabundo, o que ninguém deve ser
Tem um ditado que diz, eu não posso me esquecer
Água mole em pedra dura faz a pedra amolecer
A minha vida é um romance
Tão grande da gente ler
Que cada dia que passa
É uma folha pra escrever
Tem folhas que são alegres
Tem outras de entristecer
Tem uma que eu não escrevi
Pra levar quando morrer
Tem uma que eu não escrevi
Pra levar quando morrer