Sábado, dezenove de Março de 2005
Dentro de um apartamento duplex no Leblon
às três e vinte e quatro da tarde, horário de Brasília
temperatura do Rio de Janeiro
excedendo os trinta e quatro graus celsius
o dólar cotando a dois reais e noventa e seis
a bolsa em queda
o mundo em crise, uma jovem
no auge dos seus vinte e dois anos
decide atirar pela janela não um
não dois, mas quatro anos inteiros
de relacionamento sério com
(vejam só!) o rapaz que chega mais cedo do trabalho
com flores
Abrindo a porta lentamente, as sobrancelhas arqueadas
E como, você me perguntaria?
Como?
Fácil!
Com aquele que divide sua cama agora
agorinha mesmo, puxando os lençóis para si
E ele começa
"É isso, então?
Eu... Eu devia saber, estava na cara
Todo mundo sabia
Menos eu! É claro! Eu fui o carinha enganado, não fui?
falando assim nem parece sério!
Tão sério
Você andava muito com ele
As pessoas colocavam ideias na minha cabeça
Mas, meu bem, você sabe como é que eu sou
A gente só acredita naquilo que a gente quer acreditar
E, bom, eu quis acreditar em você, né
Olha que cara sensato
Eu... Ignorei o que disseram e segui a história
Como... O mais tolo dos insetos rasteja sobre
A teia de aranha
Não, não, não fala nada não! Tá tudo bem, eu juro!
Tá tudo certíssimo agora
Admito que é um pouco surpreendente para mim
Encontrar vocês dois aqui, assim, desse jeito
Mas, fazer o quê?
Muitos no meu lugar já estariam fazendo um escândalo
quebrando tudo, jogando tudo fora
Talvez esse carinha nem voltasse para casa hoje
aliás, talvez nunca, quem sabe?
Mas não
Eu não sou assim, né? Nunca fui
E você não me deixa outra escolha, minha querida
Se eu te odeio? É claro que eu te odeio
Eu te odeio muito, por sinal
E
Eu te odeio tanto, mas tanto
Mas Tanto
Que
Que eu fiz um samba
(Se eu te odeio... ?)
(Mas esse é o meu jeito, meu amor...)