Abra a porta desse sanatório pra eu entrar
eu não quero mais essa normalidade
Já que não acertei quase nada, tive de deixar
a vida como um souvenir, bancando um fantoche do azar
Mas recitem Baudelaire pra esse ilustre filho
que chegou rasgando vestes, sonhos
e jogando tudo pro ar
Tentando sobreviver, sem habilidades pra ganhar
sorvendo dias nesse teatro infernal
Brindo a vida como quem morre de sede
e ainda encontro poesia em tudo
minhas utopias inimputáveis sobrelevam-me
num desencontro que encontro
sempre contra mim
Ofereçam-me as rosas mais vivas
que em troca dou-lhe os versos mais sutis
que eu recluso, em fim
Sei que estou distante demais
da vida pra sonhar
mas se vivi foi senão por um sonho
abram a porta, eis-me aqui