É provisório esse não cantar
que habita em mim
é o insólito medo a medrar
amarelo assim
Esteriliza o nosso abraçar
qual foice em capim
nem prospera o nosso odiar
infértil jardim
Que regas à noite quando vens
vigiar estrelas e se perder de mim
só ao medo é permitido cantar
no poema e muito além
do que mares e sertões
Só soldados sabem perdoar
só as mães podem sorrir
se desertos tornam-se mar
e ditadores souvenir
Nem só a morte temos a temer
também o que há de vir
há democratas a escrever
antes de partir
Fugindo de onde há tanto pavor
imergindo na escuridão
que carrega a si
pra longe, onde não prosperam mais
essas flores amarelas
que aos túmulos caem
(belo quando nasce pra gritar
e gritando segue até o amanhecer
pouco belo é esse não cantar
pra calar, antes não saber...)