Sou lágrima que beija e face
E as saudades que florescem o campo
Vive em mim, na intenção dos silêncios
Um lado avesso sem o sal do pranto
Guardo um encanto pleno das manhãs
No canto dum tajã compondo o dia
Solitário a bendizer o tempo
Voz clara lacrimada em poesia
Tenho a cruz de asas brancas de uma garça
Compondo o voo, altar da própria fé
Templo simples de juncais e sarandis
Quiche pobre de sereno e santa fé
Sou lágrima sem sal que beija a face
Do campo inteiro em seu olhar cansado
Que derrama em mim bem mais do que as saudades
Que dormem em meus mistérios de banhado
Habito nas razões das primaveras
Flor do aguapé que floresceu sozinho
E encanta o triste dum caraguatá
Que despe a lança esguia dos espinhos
Vivo as noites na ilusão de algum romance
Espelho em prata que por mim se banha nua
E a saparia canta só seu puro amor
O mesmo que não sei cantar pra Lua
Sou lágrima que beija a face
Lado avesso sem o sal do pranto
Vive em mim na intenção dos silêncios
As saudades que florescem o campo