Primeiro cantar do galo,
Um despertar sem receio
Do catre feito de arreio,
Junto ao braseiro no chão
Bater tição com tição,
Para a cambona aquentar
E como é bom madrugar,
Pras lidas do meu rincão...
Pedro cortes grita: forma!
Amanuciando a eguada
E a dalva se faz clareada
Ao pouco lume da lua
“deusinho” prepare as puas,
Que a redomona convida
Pois quem tem alma charrua,
Forja o cavalo co' a vida...
Posteiro abre a porteira,
Que eu vou recontar o gado!
Faça costear no aramado
E quanto mais fino ficar
É mais difícil de errar,
Que a luz da lua ta fraca
Pois são três tarca de vaca
E quinhentos “boi colorado”
Já são seis dias batidos...
Que buena nossa comparsa
Tem companhia das garças
Revoando sobre a boiada
Vaga-lume e madrugada,
Por quinchas de santa fé
A gana do chamamé
Marcando o tranco da eguada
Junto a guitarra irmanada
O tempo se faz campeiro
Unindo tropa e tropeiro
Na marcha que impõe a estrada.
Deixa que estenda a vontade
O gado grande e pequeno
Para que paste o sereno,
Que o posto tava rapado
Cobram uns caraminguado,
Que não faz falta pro vício
Mas ser posteiro é um oficio
O “paiva” é velho agregado!
Tchê “valsa”! tu que é ponteiro,
Segura os mais troteador
Que o sol vai trazer calor,
“mui” distante hoje está a' aguada
E o baio da tua manada,
Fina flor de campejano
Já sente o peso dos anos
E a sova das basteriada...
Só falta o quarto minguante,
Pra terminar a jornada
Levo a culatra empurrada
No estalo do relhador
Luiz facão faz o fiador!
Num pingo de bom cogote
No trono do serigote,
Mais um rei no corredor!