Frente cavalo!
O mouro bufa, troca orelhas desconfiado
Levo o buçal, passo o cabresto no pescoço
Choveu à noite, é madrugada, mal clareia
Já na mangueira a cavalhada que é um colosso
Parece aluada, não forma, não cabresteia
Morde, coiceia, corre em volta num retoço
Dou mais um passo, falo baixo em tom amigo
E o potro arranca enfiando a cara no buçal
Firmo o fiador, passo a mão por todo o lombo
E volto ao tranco me atolando no barral
Junto ao garrão espora grande abrindo rombo
Me enverga o rastro replantando esse ritual
Chego ao galpão, agarro as garras despacito
Montão de trastes que se fez meu ganha-pão
Quando me agacho vem pra boca o barbicacho
E alma xucra lambe o sal do coração
O potro mouro, por caborteiro de baixo
Leva um abraço da maneia mão-a-mão
Depois que encilho, puxo da marca coqueiro
Bato na espora, limpo a bota e raspo a sola
Quem é ginete tem um nome pra zelar
Pois sobre o pasto faz do basto sua escola
E quando ata o bocal faz quatro galhos na cola
Bem do meu jeito a preceito me enforquilho
De lombo duro o mouro avança e me convida
Banco na rédea, ergo o braço e falo manso
Ora cavalo, deixa disso e não te olvida
O dia é grande, se eu quiser não tem descanso
“Bamo arreglar” que é bom pra nós, melhor pra lida
Ah! Como é lindo dois viventes que se entendem
E se respeitam cada um pelo que é
Irmãos de luta, sempre um carrega o outro
Pois com certeza um campeiro quando a pé
Dentro do peito traz escramuçando um potro
Bandeira pampa, liberdade, herança e fé!