Quando a boieira linda aponta
De manha no alto da telha
O pai-de-fogo acende a ponta
Com as faíscas dessa estrela
Seu clarão acorda os galos
Chia o bico da chaleira
Une os bois toca os cavalos
Bota as vacas na mangueira
Na garupa traz a aurora
E as cantigas pra o terreiro
Lá no cerro imita a espora
No garrão do peão campeiro
Sempre a boieira traz o dia
Meia légua antes do sol
E à tardinha é a estrela guia
Que anuncia o arrebol
(Refrão)
Relógio do campo
Ela acorda o peão
E o galo abre o canto
Ao enxergar seu clarão
Relógio do campo
Alumia o galpão
E lá no imenso vazio
Ela acende o pavio
Pra dizer que horas são
Quando o sol ébrio de sombras
lá se vai manco do encontro
dita Vênus, sai das lombas
ver se o mate já está pronto
Mesma estrela vespertina
vai com os bois beber na sanga
lambe o sal dentro da tina
e vem dormir junto da canga
Com esta boieira viajada
o João-do-Campo se assemelha
porque sempre sua jornada
vai de uma estrela a outra estrela
Madrugada e arrebol
marcam assim a lida campeira
muito mais que sol a sol
vai da boieira a outra boieira
(Refrão)