Cada vez que pisco o olho
Um século termina
Pois tudo nessa vida
É o fim de alguma coisa
O que há depois da morte
Todos nós vamos saber
O feio é um bom motivo
Pro bonito acontecer
Nós somos a carne humana
Temos o dom do prazer
Não sei se sei ou não sei
Fazer o que eu faço
Pois vivo naquele espaço
Entre a neblina e o aço
O poeta não depende
Das solas dos sapatos
Governem-se, queridos
Caprichem mais no traço
Nós somos a carne humana
Temos o dom do prazer
O cipó até parece
Foi feito pro macaco
É o peso do universo
Sobre qualquer ato ou fato
Quando o branco dos teus olhos
Se espalhar na plantação
Será porque finalmente
Caiu neve no sertão
Nós somos a carne humana
Temos o dom do prazer