Quando Lisboa anoitece
Como um veleiro sem velas,
Alfama toda, aparece
Uma casa sem janelas
Aonde o povo arrefece.
É numa àgua-furtada,
No espaço roubado à mágoa
Que Alfama fica fechada
Em quatro paredes de água!
Quatro paredes de pranto!
Quatro muros de ansiedade!
Que à noite fazem o canto
Que se acende na cidade.
Fechada em seu desencanto,
Alfama cheira a saudade!
Alfama não cheira a fado,
Cheira a povo, a solidão!
Cheira a silêncio magoado!
Sabe a tristeza com pão!
Alfama não cheira a fado
Mas não tem outra canção!