João do alto
Voando
Tá esperando
O Sinal da criatura
Se parece um deputado
Com paletó bem passado
De linho de pena escura
Seu escritório é o céu
Lá despacha sem papel
Carimbo ou assinatura
O seu serviço é comer
O vivente que morrer
Sem direito a sepultura
Bate ponto no horário
Mesmo sem ser funcionário
De nenhuma prefeitura
Só se alimenta de graça
Onde encontra uma carcaça
Mete o bico, rasga e fura
Merenda sem reclamar
Engole sem mastigar
Porque não tem dentadura
Nunca enjeitou refeição
Come carniça no chão
Pensando que é rapadura
Tudo o que come é pesado
Porém não fica empachado
Voando alto se cura
Nunca invejou o Pavão
Que não canta uma canção
Nem se tiver partitura
Pode o Pavão ter beleza
Mas também tem asa presa
Nos ares não se pendura
Só respeita o gavião
Por ele ter instrução
Na mesma literatura
E a coruja sabida
Conhecedora da vida
Sem precisar de leitura
Como empregado da morte
João do Alto tem sorte
Porque vive na fartura
Mas também vai virar pó
Porque o seu paletó
A morte também costura
João do alto
Voando
Tá esperando
O Sinal da criatura