Não vejo nada que não tenha desabado
Nem mesmo entendo como estou de pé
Olhando o outro no espelho pendurado
Me reconheço
mas não sei quem é
Não ouço passos de ninguem entre os escombros
Nem mesmo insetos revirando o pó
Um vento seco me arrepia
Encolho os ombros
Mas na verdade estou queimando o sol
Depois do fogo restam só
fumaça e brasas
Eu tiro as cinzas do meu peito nu
Daqui a pouco
meus dois braços serão asas
E eu me levanto
renascido e cru
E mesmo aquela velha sombra ressecada
Imita tanto quantos fui
e sou
ficou nos cacos de um espelho aprisionada
E pés cortados não vai onde eu vou
Antes de nascer as plumas
comi as unhas
Quero me arranhar
pra ter riscado na pele
um mapa tosco pra poder voltar
Vou passar como santo,
mudo
mirando alto, rindo,
preparando o salto,
deixando pra trás tudo.