MILONGA MAUÁ
(Sidney Bretanha)
Pra quem vai embora e não volta mais
Pra quem chega em busca de apego e paz
Pra quem deixa a vida assim no mais
Pra quem planta e canta os arrozais
Pra quem é beato e ama o pecado
(Quem ergue a bandeira – quem não tem lado)
Pra quem é urbano e conduz o gado
Pra quem é inocente e foi condenado
Por favor, me diz que lugar é esse
Que me faz feliz e me empobrece
Ti ti ti – blá blá blá – conversa fiada
Toma lá da cá... Milonga Mauá
Pra quem se cala e sossega o facho
Pra quem tá só na rapa do tacho
Pra quem veste a moda e o esculacho
Pra os que vêm de fora e os que vêm de baixo
Pra quem não se abala e entra na dança
Pra quem vive a vida da vizinhança
Pra quem sempre espera e nunca se cansa
Pra quem quer heranças e não confiança
Então vem me dizer que lugar é esse
Que me dá prazer e me adormece
Por Aqui... Doce Lar – balcão, madrugada,
Corpos no sofá... Milonga Mauá
Pra quem vende a vida por um vintém
Pela mesma rua num vai-e-vem
Pra quem ficou preso ao que mais convém
E amarrou seu tempo co’a linha do trem
Pra quem tem amor à monotonia
Pra quem quer saúde, paz, moradia
Pra quem puxa o saco e não lambe a cria
Pra os que vão no vácuo da utopia
Já não sei dizer que lugar é esse
Que me faz não ser, que nunca acontece
Correnteza no olhar – Canções para o nada
Lá lá iá lá ia... Milonga Mauá