Nasci em Bofete na costa da serra
Até quinze anos vivi nessa terra
Domingo cedinho arriava o bragado
Domingo e feriado ia até a capela
Eu tinha um bragado, um cavalo de fiança
Pousava amarrado em todas as festanças
Eu sou inclinado canto de viola
No tempo da escola, desde a minha infância
Minha obrigação era lidar com gado
No meu alazão muito bem amestrado
Toda tarde eu ia prender os bezerros
Pro gado leiteiro dormir separado
O monjolo da água bate sem cessar
No casarão de tábua no fundo é um pomar
Canta o urutago na furna da serra
Quando a tarde encerra e surge o luar
Os homens bem cedo bastante cuidado
Dos urutus dourados habitavam o lugar
Quando cai a tarde perto do paiol
Na beira da margem canta um chororó
Seu cantar invade o meu coração
Viver no sertão é o meu prazer maior
Pegar o trabuco eu e o Luiz Simão
Pra caçar macuco naquele sertão
Eu fico maluco, nem queiram saber
Lido pra esquecer daquele tempo bom
Depois resolvi me mudar pra cidade
Hoje eu passo aqui grandes contrariedades
Eu canto assim e vivo a cantar
Só para enganar esta grande saudade
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)