Quando vejo o velho carro
Na sombra do angiqueiro
Já roído pelos anos
Com mais de trinta janeiros
Com o cabeçalho quebrado
E os cocão já apodreceram
Bem poucas coisas restaram
Do meu tempo de carreiro
Minha boiada carreira
Há tempos que já morreu
Mas eu guardei por lembrança
O chifre de um boi ligeiro
Uma vara de ferrão
Uma canga e um candeeiro
Um laço de doze braças
Do couro de um pantaneiro
Meu carro cantava triste
Lá no alto do espigão
Naquelas manhãs de frio
Cortava aquele sertão
Com quatro juntas de bois
Passos lentos pelo chão
De muito longe se ouvia
O gemido dos cocão
No meu tempo de carreiro
Muitas proezas eu fazia
Quantas toras enjeitadas
Que do mato elas saía
Eu gritava com a boiada
E os tamoeiros gemia
Não precisava de auxílio
Porque Deus me protegia
Aqui dentro do meu peito
Só as saudades ficou
Quanto mais o tempo passa
Mais aumenta a minha dor
Eu não vejo mais boiada
E nem carro cantador
Hoje ronca um caminhão
Onde meu carro cantou