A aurora descamba nas dobras do campo
Numa geada de julho na grama sofrida
De canga e regeira, canzil e embornal
Eu junto os meus bois pra outro dia de lida
Assim foi a vida do vô e do pai
No cabo de um nove em lavouras de linho
Porque assim é a vida na terra vermelha
Gastando colheras no mesmo caminho
No boi e no arado o sustento da vida
Na verga estendida que não dá refugo
E o piá, inocente, no pátio brincando
Já anda cangando seus bois de sabugo
Não sabe meu filho que a canga do tempo
Amansa os tambeiros mas cobra depois
Porque a terra promete, mas ás vezes nos tira
Nos leva o arado e as juntas de bois
Por sobre a parelha olhando o horizonte
Plantei um futuro que só o tempo viu
Na safra perdida a dor mais sentida
Do filho crescido que um dia partiu
Ficaram restevas e cercas caídas
Num fim de colônia onde o arado cruzou
E um rancho tapera testemunha da história
Cuidando de um sonho que não germinou