Tive surpresas, muitas vezes tão doídas,
Caminhei à passos largos, evitando tropeçar,
Fui viajante, boiadeiro, eu fui andante,
Fiz história com boiada, nem o tempo vi passar,
Agora aqui, embaixo da paineira velha,
Com meus olhos cheios d'água,
Sem saber pra onde ir,
Resta em meu corpo calejado de lembranças,
As pousadas e festanças, boiadas que conduzi.
Quantas viagens infindadas, comitivas,
Travessias perigosas nas águas do paraguai,
Rio de surpresas, correntezas, cachoeiras,
Vida boa pantaneira, herança do meu velho pai,
Em poesia com o repique do berrante,
A boiada segue adiante até a lua aparecer,
Rio araguaia de histórias e segredos,
Sua grandeza mete medo e a saudade faz doer.
E agora dentro do caixão de lenha,
Minha tralha velha, toda empoeirada,
A sela de prata junto ao par de esporas,
O berrante amigo do velho ponteiro,
A capa de chuva que foi tão surrada,
Viola caipira sem corda nenhuma,
Me contam que o tempo é cruel e ligeiro,
É o ciclo final desse velho boiadeiro.
Quantas viagens infindadas, comitivas...
E agora dentro do caixão de lenha...