Ele era um bom rapaz, trabalhador
Um operário leal, cumprindo o bem
Vinte anos de ilusões brotando em flor
E uma eterna afeição por sua mãe
Mas um dia fatal, os companheiros
Levaram-no à taberna onde parava
A malta dos vadios e desordeiros
Dos quais um à guitarra assim cantava
Um fadinho a soluçar
Faz de nós afugentar
A ideia da própria morte
Mata a dor, mata a tristeza
O fado é bendita reza
Dos desgraçados sem sorte
Tem tal dor e mágoa tanta
Quando canta uma garganta
De quem vive amargurado
Que o refúgio preferido
P’ra quem viver dolorido
Está na doçura do fado
Esta triste canção foi mau agoiro
Que a vida lhe viesse transtornar
Tomou gosto à taberna, o matadoiro
E em breve, deixou de trabalhar
Uma ideia tenaz e doentia
Trazia-lhe a cabeça transtornada
Chorar, fazia a mãe, quando o ouvia
Já ébrio, ao regressar de madrugada