A pixação mais alta
Escorrendo do vigésimo andar
Diz o que muitos queriam ser
E poucos puderam se tornar
Se lá estivesse estampado no parapeito
Toda a mágoa do peito
Todos iriam saber
Nossos nomes, sonhos e coragem
Ah, aquela seria a nossa oportunidade
As vezes me sinto ofuscada pelos anúncios das revistas
Mas lá de cima nenhum rótulo me alcançaria
Notada eu seria, grandiosa eu seria
Entenda
O que lhe parece vaidade é voz pra periferia
Quero a parte de cima toda preenchida
E o sereno escorrendo pelas minhas paredes
Matando assim a minha sede de ser reconhecida
Ai bê o
Procure saber
Nem toda cicatriz é marca de luta
Nem todo mundo que pede socorro ajuda
Nenhum fracasso vai dobrar o meu santo
Não existe plano certo
Quando o trajeto é o infinito
Não existe tatuagem mais preciosa
Que as minhas cicatrizes
As minhas memórias
E eu vou
Construindo um aeroporto em cada queda
Trago agora comigo apenas
O que é capaz
De me elevar
Meus pés são dois países
Em guerra contra a solidão
Eu não aguardarei soldado no asfalto
O próximo paço é minha única certeza
E eu vou
Caçando meu papel no mundo
Encontro a palavra que é oração
Mantra que me veste
Nas figuras das nuvens
Na queda dos muros
Eu não escrevo para dar voz aos oprimidos
Eu sou um deles; e estou aqui
Minha gente nunca se deixou calar
Meu povo só nunca foi ouvido
Escrevo e vou
Nessa caligrafia sem tradução
Descubro
Não estou só
Ainda é através dos olhos
Que reconheço os meus